quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Coaching para Crianças


Por Tânia Higa Sakuma




O coaching para crianças pode ser desenvolvido em formas de programas de treinamento dentro de escolas, entidades, clubes e associações, utilizando o método de vivências em grupo, tendo em vista a promoção de desenvolvimento cognitivo, socioemocional e comportamental.

Uma tarefa chave do coaching para crianças é facilitar o processo de descoberta orientada, onde a criança é ajudada a reavaliar seus pensamentos, crenças, suposições, como também, a desenvolver cognições e processos cognitivos alternativos, mais equilibrados, funcionais e úteis. Este processo, de autodescoberta e de promoção da autoeficácia, é facilitado através de diálogos, nos quais as crianças são ajudadas a perceber informações novas ou ignoradas anteriormente. Pode-se também utilizar-se de uma variedade de perguntas, cada uma com um foco diferente, que ajudam a criança a identificar e testar sistematicamente os seus pensamentos.

Outro ponto de extrema importância no desenvolvimento de um programa de coaching para crianças são as dinâmicas e as vivências em grupo. De acordo com Del Prette & Del Prette (2001), vivência é “uma atividade de grupo, estruturada de modo análogo ou simbólico a situações cotidianas, que cria oportunidade para desempenhos específicos.” O uso de vivências constitui, portanto, uma estratégia que permite criar “naturalmente” demandas para emissão de habilidades psicosociais, facilitando o uso de contingências apropriadas à aquisição e manutenção desse repertório.
No caso de crianças com objetivo de desenvolvimento de habilidades interpessoais, por exemplo, o coach utiliza vivências que demandam comportamentos tais como: controlar o impulso de responder, ouvir o outro, ser assertivo, consultar colegas, analisar e escolher entre diferentes opiniões. Na sequência, pode explicitar que determinados problemas ou situações são acontecimentos naturais da vida em sociedade (Del Prette & Del Prette, 2005), ensinando a criança a perceber as suas capacidades, buscar alternativas, avaliar cada uma delas, fazer novas consultas, escolher um curso de ação, etc. Tudo isso em situação de grupo, onde a interação (ação entre as crianças) é fundamental, cabendo ao coach organizar e conduzir a atividade. Ao escolher uma vivência, o coach também pode estabelecer certas oportunidades para desempenhos específicos e, durante a condução da mesma, apresentar ou mediar conseqüências (feedback, aprovações, correções, etc) para as percepções e os comportamentos que foram estabelecidos como objetivos da atividade.
A metodologia vivencial se ancora na perspectiva das modernas teorias sobre a inteligência (Gerk-Carneiro, 2003; Gardner, 2000), que deslocam a ênfase no “uso da cognição” para uma pluralidade de experiências: o movimento, o raciocínio, a memória, a imaginação, a emoção e a interação. Em outras palavras, considera o que Gardner (1994) denominou de inteligências intra e interpessoal e que constituem a base da inteligência emocional ou social (Del Prette & Del Prette, 1999). Nesta proposta, a maior ênfase recai sobre a qualidade da interação social do profissional coach com as crianças e das crianças entre si. O uso de interações educativas facilita o aprender fazendo, e a construção do conhecimento, mesmo em atividades bem simples. Elas requerem e, ao mesmo tempo, promovem o desenvolvimento socioemocional das crianças, suas habilidades de convivência e um ambiente saudável entre elas. A metodologia vivencial apresenta, portanto, várias características que a situam como uma alternativa especialmente apropriada para a promoção de habilidades emocionais e sociais no contexto escolar, além de amplamente aplicável em outros contextos educacionais e em ambientes terapêuticos (Del Prette & Del Prette, 2005).
Os profissionais atuantes no processo de coaching para crianças devem buscar a mudança nesse espaço, tendo como ponto de partida, além da realidade presente, as observações das atividades desenvolvidas pelas crianças, transformando o trabalho individual em coletivo, a competição em cooperação e o “agir por agir” em “refletir sobre o agir”.

As crianças precisam mais do que uma base segura e, ao mesmo tempo, tranquilizadoras. Desta forma, num processo de coaching para crianças é preciso criar um ambiente onde a criança se sinta emocionalmente segura, mas que possa explorar o mundo. Tal exploração pode ser física, como correr ou movimentar o corpo; interpessoal, como encontrar novas pessoas e fazer amizades; ou até mesmo cognitiva, como satisfazer curiosidades intelectuais.

Um sinal de que a criança se sente segura é quando ela pode brincar. As brincadeiras proporcionam inúmeros benefícios para o desenvolvimento da criança, pois através delas as crianças adquirem uma gama de experiências cognitivas, emocionais e comportamentais. Principalmente, elas aprendem muitas habilidades sociais, como negociar lutas de poder, cooperar, formar alianças e ceder com boa vontade.

Toda esta prática de habilidades acontece durante as brincadeiras, em ambientes relaxados e seguros, até um erro pode provocar risadas, enquanto em sala de aula esse mesmo erro poderia parecer inaceitável e ridículo. Assim, a brincadeira proporciona às crianças um espaço seguro para experimentar coisas novas em seu repertório com o mínimo de julgamentos e ansiedade.

O cientista que estudou o circuito neural da brincadeira foi Jaak Panksepp (1998), da Bowling Green Stare University, em Ohio – EUA. Ele explora a fonte neural das principais pulsões humanas – inclusive a diversão, que ele vê como a fonte de alegria do cérebro. Com a descoberta de que os circuitos cerebrais que controlam a brincadeira também estimulam a alegria, ficaram ainda mais claros os motivos que levam a brincadeira ser tão divertida.

Através do ato de brincar, a criança demanda e cria o seu próprio espaço seguro, no qual ela pode confrontar ameaças, medos e perigos, mas saindo sempre ilesa. Na brincadeira, tudo o que acontece fica suspenso em uma realidade marcada pela suposição. Então, a brincadeira proporciona às crianças uma maneira natural de controlar o medo do abandono e da separação, oferecendo-lhes oportunidades de domínio e autodescoberta. Consequentemente, livres do medo ou da inibição, as crianças podem encarar desejos e impulsos perigosos demais para serem enfrentados na realidade.

O processo de coaching para crianças deve, portanto, contemplar todas estas características de ajudar a criança a descobrir as suas formas de pensar, criar vivências de situações e permeada com muitas brincadeiras.